Todas as armas da Síria passam a ser controladas pelo Estado
- 22/12/2024
Ahmad al-Chareh falava em Damasco, ao lado do chefe da diplomacia turca, Hakan Fidan, depois de receber uma delegação do Líbano, com a qual se comprometeu a pôr fim à influência "negativa" da Síria no país vizinho.
Em 08 de dezembro, uma coligação de rebeldes, liderada pelo grupo radical islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS), dirigido por Chareh e apoiado pela Turquia, entrou em Damasco e anunciou o derrube do governo, depois de uma ofensiva relâmpago que lhe permitiu conquistar uma grande parte do país em 11 dias.
Bashar al-Assad, que governou a Síria com mão de ferro durante 24 anos, foi abandonado pelos seus aliados iranianos e russos e fugiu para Moscovo, marcando o fim de mais de 50 anos de domínio da família Assad.
No contexto de transição, num país destruído por 13 anos de guerra devastadora, Chareh afirmou que as "fações armadas [iriam] começar a anunciar a sua dissolução e a juntar-se" ao exército.
"Não permitiremos de forma alguma que as armas escapem ao controlo do Estado [...], quer provenham de fações revolucionárias ou de fações presentes na zona das FDS [Forças Democráticas Sírias, dominadas pelos curdos]", acrescentou.
O FDS, apoiado por Washington, é visto por Ancara como uma extensão do seu arqui-inimigo, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Hoje, registaram-se confrontos entre as fações que protestam e o FDS, na zona da barragem de Tichrine, no Eufrates, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
A organização não-governamental referiu igualmente a morte de uma mulher e do filho na sequência de "bombardeamentos de artilharia das fações pró turcas" nos arredores de Kobane (norte).
O diplomata Tobias Tunkel, responsável pelas questões do Próximo e Médio Oriente no Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão, disse hoje na rede social X, que tinha falado com o líder das SDF, Mazloum Abdi, sobre o aumento das tensões na cidade fronteiriça de Kobane, controlada pelos curdos, "e sobre as medidas urgentes que têm de ser tomadas para as desarmar".
Chareh reafirmou ainda que a sua administração está a trabalhar para proteger as minorias de atores "externos" que tentam explorar a situação "para provocar discórdia sectária" e sublinhou a importância da "coexistência" no país multiétnico e multiconfessional.
"A Síria é um país para todos", afirmou.
Após a queda de Bashar al-Assad, que se tinha apresentado como o protetor das minorias num país predominantemente sunita, as novas autoridades estão a ser analisadas quanto à forma como irão tratar as minorias.
Ahmad al-Chareh recebeu em Damasco o líder druso libanês Walid Joumblatt, no seu primeiro encontro com um dirigente deste país vizinho, que sofre há décadas com a ingerência do clã Assad, responsável por numerosos assassínios.
A Síria não voltará a "interferir negativamente no Líbano e respeitará a soberania libanesa", garantiu Ahmad al-Chareh, que apelou aos libaneses para "apagarem da sua memória a lembrança da antiga Síria no Líbano".
Joumblatt liderava uma vasta delegação de deputados do seu bloco parlamentar, incluindo o seu filho Taymour, que lhe sucedeu na liderança do Partido Socialista Progressista, e dignitários religiosos da minoria drusa, uma seita esotérica do Islão espalhada entre o Líbano, a Síria e Israel.
Desde o derrube de Assad, diplomatas de vários países deslocaram-se a Damasco para se encontrarem com as novas autoridades.
Na sexta-feira, Washington retirou a oferta de uma recompensa pela detenção do novo líder sírio, mas o HTS continua a ser classificado como "terrorista" por vários países ocidentais.
Leia Também: Turquia defende fim das sanções à Síria o mais rapidamente possível